Pesquisas

As pesquisas realizadas pelo projeto também ajudaram a desfazer antigos mitos e permitiram que se compreendesse melhor a trajetória do homem, inventor e pioneiro dos ares Alberto Santos-Dumont. .


A ENTREVISTA DE SANTOS-DUMONT PARA A REVISTA “LECTURES POUR TOUS” – 01/01/1914

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Ao longo do desenvolvimento do projeto “Santos-Dumont, de próprio punho”, uma revista adquirida de uma especialista francesa em livros antigos chamou a atenção pela série de revelações que trazia. Um dos destaques da primeira edição de 1914 da “Lectures pour tous” era uma entrevista concedida por Santos-Dumont ao jornalista Frantz Reichel em 20 de outubro de 1913, um dia após a inauguração do famoso monumento do Ícaro, construído em Saint-Cloud para marcar o pioneirismo do brasileiro.

Acreditamos que foi uma das últimas entrevistas do inventor antes da I Guerra Mundial, fato que iria mudar para sempre a Europa e também sua vida. Entre os pontos mais interessantes do texto (o qual reproduzimos abaixo em francês e traduzido para o português), está a descrição feita pelo jornalista de Santos-Dumont, como “um homenzinho ágil, magro, nervoso, vigoroso; um verdadeiro atleta em miniatura, do peso de cinquenta quilos, que a prática de esportes mantém em perfeitas condições”. Algo que contradiz algumas versões de que o inventor havia deixado de voar por problemas de saúde.

Outras curiosidades da entrevista são as passagens onde Santos-Dumont fala que havia nascido em São Paulo (informação incorreta, mas que ele também publicou na autobiografia “Dans L’Air – No Ar”) e se formado em Engenharia, algo que também não aconteceu. Ele também conversa abertamente sobre alguns pontos considerados “tabus”, como as suas superstições e a sensação de conviver tão perto da morte.

Mas a principal revelação é o anúncio do seu retorno à aviação em 1914, depois de estar afastado das experiências aeronáuticas desde 1910. Inclusive, são apresentadas fotos da máquina com a qual retornaria aos céus: uma grande Demoiselle com motor radial. Pouco conhecido, esse acontecimento é reforçado por outra descoberta feita pelo projeto “Santos-Dumont, de próprio punho”. No início de 1914, o inventor solicitou a emissão de novos brevês, os quais foram concedidos em 26 de maio. Os três documentos autorizavam o brasileiro a conduzir balões, dirigíveis, aeroplanos e hidroaviões.


Clique na imagem e veja os três brevês

Em sua segunda autobiografia “O Que Eu Vi – O Que Nós Veremos”, o próprio inventor sepulta essas lembranças ao declarar que “o título de aviador continuam a dar-me sem que o mereça há 10 anos, pois, a última vez que conduzi um aeroplano foi em 1908”. Mesmo se desconsiderarmos as experiências com a nova Demoiselle, as quais ainda não sabemos se foram concretizadas, a informação segue incorreta, uma vez que Santos-Dumont fez muitos voos públicos até 1910.

Após anos de pesquisas, coletas de documentos e viagens em busca das memórias de Santos-Dumont, acreditamos que o inventor seguiu ativo após a invenção da Demoiselle e muitas outras contribuições daria para a aviação se a I Guerra Mundial não houvesse atravessado o seu destino a partir do fatídico 28 de Julho de 1914. Para embasar essa afirmação, além da entrevista para “Lectures pour tous” e dos brevês, também recordamos as conhecidas fotos de sua casa de praia em Benerville, no litoral francês do Canal da Mancha, construída em 1913 e sempre repleta de amigos. Um comportamento bem diferente do isolamento adotado por Santos-Dumont após o conflito mundial.


Casa de praia de Santos-Dumont

É preciso considerar que todas as conquistas do inventor (aviões, carros, casa de praia, observações astronômicas à beira mar, apartamento em Paris, amizades…) se perderam em meio a Grande Guerra. Por outro lado, a humanidade também começou a perder a genialidade de Santos-Dumont nessa altura. Em nossa opinião, não por acaso, ele desistiu de estar entre nós quando encontrou um conflito ainda mais sem sentido: a Guerra Civil de 1932.

Clique nas bandeiras para ler a entrevista completa de Santos-Dumont em português ou francês: